Continuando com o mesmo tema da confabulação anterior, lembro que no mês de março passado a imprensa nacional falou muito sobre o preocupante quadro do aumento do consumo do crack no Brasil – uma droga proveniente da cocaína com uma potência muito maior que esta e que provoca efeitos e dependência mais fortes que o álcool e a maconha em crianças, jovens e adolescentes. Segundo o psiquiatra Félix Kessler, coordenador de pesquisas sobre álcool e droga na Universidade federal do Rio Grande do Sul, as drogas fumadas – como o crack – entram no organismo rapidamente. “ O pulmão tem superfície extensa que absorve grande quantidade de substância, que vai direito ao cérebro”, diz o psiquiatra, que também é membro da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead).
Li, por exemplo, na Agência Brasil, que estudo recente realizado por Kessler em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro detectou um aumento do número de usuários de crack em tratamento ou internados em clínicas para atendimento a dependentes de álcool e drogas. Eles respondem por 40% a 50% dos indivíduos em tratamento, dependendo da clínica e de sua localização. Em meados da década de 1990, usuários de cocaína e crack eram responsáveis por menos de um quinto da procura em serviços ambulatoriais relacionados a drogas ilícitas.
Nos últimos anos, o crack também começou a ganhar terreno entre grupos com rendimentos mais elevados, apesar de a droga ainda ser mais comum entre as classes de baixa renda. O resultado tem sido devastador. Homicídios em alta, famílias e carreiras destruídas, ruas as escuras, em parte pelo roubo de fios de cobre da rede elétrica para financiar o consumo e o medo e desespero de todos que começam a ver o crack batendo em suas portas, diretamente ou indiretamente. O Rio Grande do Sul já está mergulhado em uma epidemia de Crack nunca antes vista no Brasil, com pelo menos 50 mil viciados.
Afora esses números que tratam da questão em nível nacional, não temos estatística do avanço do crack na Bahia, exceto pelas páginas policiais, onde são registradas notícias apontando mortes ou prisões de dependentes e traficantes da droga.
O Crack, aliás, não é apenas rápido em tornar dependente quem o fuma, mas também na possibilidade de tornar rico quem o trafica. Enquanto um papelote de cocaína custa cerca de R$ 20, uma pedra de crack sai em média a R$ 5. Enquanto um usuário de cocaína consume em uma noite dois ou três papelotes, muitos dependentes do crack fumam de 15 a 20 pedras por dia. Como o crack gera dependência forte, as bocas de fumo se transformam em grandes revendedoras para pessoas de todas as classes.
Diante do alto grau de dependência gerado pelo crack, que supera a dependência causada pelas demais substâncias psicoativas, necessário se faz que o Poder Público trate a questão também de forma diferente. Depois de pesquisar dentro do site da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia - Sesab, percebi que faltam medidas preventivas para o enfrentamento de uma epidemia futura de dependência do crack, como já ocorre no Rio Grande do Sul. Fiz uma listinha e sugiro que os responsáveis pela política pública de saúde em nosso Estado pelo menos a analise. Ei- las:
- inclusão da dependência do crack como uma doença a ser tratada preventivamente;
- criação e implementação do Centro de Referência de Prevenção e Tratamento de Dependência Química;
- inserção no Programa de Saúde do Adolescente – Prosad de planejamento e elaboração, com diferentes setores, de um plano estratégico de ações específicas para os adolescentes voltados para a prevenção e tratamento de dependência química;
- enfrentamento da dependência química com a sua inserção dentro do Programa de Saúde Mental;
- implementação do programa de Prevenção do Abuso de Substâncias Psicoativas – Prevdrogas, com a previsão de leitos em unidades psiquiátricas para tratamento dos casos agudos de dependência do crack.
Essas medidas certamente contribuirão para fortalecer as ações já desenvolvidas pelo governo do Estado em parceria com o Cetad - Centro de Estudos em Terapia de Abuso de Drogas da Universidade Federal da Bahia.
Comentários
Postar um comentário